Por Laura Muller
Doula e
Educadora Perinatal , Facilitadora em Grupos de Coletivos Feministas,
Facilitadora em cursos de formação de Doulas. Autora do Projeto Fênix Para
Vítimas de Violências Sexuais e Obstétricas, Voluntária e Coordenadora do Grupo
Gestar Ouro Preto- MG ,Colunista no site Imprensa Feminista e Mãe do Arthur.
Primeiro quero falar sobre misandria.
Resumidamente eu explico que misandria é um conceito e não
uma realidade. Quando falamos em misandria já recebemos uma chuva de argumentos
carregados de falsa simetria comparando a misandria a misoginia. E sobre isso
só a algo a falar: FALSA SIMETRIA.
Mulheres são violadas, assediadas, violentadas,
deslegitimadas, silenciadas diariamente somente e apenas por serem mulheres.
Homem nenhum no mundo passa por qualquer violência citada apenas e somente por
ser homem.
A misandria não é ¹ sobre indivíduos específicos e sim sobre
o que o homem como ser social representa. Um homem sempre deterá privilégios
sobre mulheres enquanto a sociedade se manter em um sistema machista e
patriarcal.
Pesquisando para ver o que mais minhas parceiras de luta
acham sobre o tema encontrei um texto e destaquei algumas partes que achei
relevantes e bem didáticas:
“Misandria é um conceito muito distorcido e mal utilizado. O
senso comum basicamente coloca a misandria como ódio individual aos homens, um
ódio sem motivo, sem sentido — como se mulheres misandricas fossem animais
irracionais. Nos rotulam como “histéricas” (uma denominação amplamente
utilizada para torturar e queimar mulheres na Idade Média) e exageradas. Porém,
antes de tudo, é preciso encarar que homens cisgêneros formam uma classe
política. O que isso significa? Significa que eles, enquanto grupo social, são
moldados pelo mesmo tipo de estrutura e também a perpetuam. Quando falamos que
“homens são todos iguais” estamos falando da classe política homem e não de
suas experiências individuais.”
“Misandria não é ódio descabido e desmotivado, é ódio ao
poder que a classe política dos homens exerce.” ²
Dito isso vamos ao ser mãe de menino.
Sou mãe de um menino, um menino lindo que acaba de completar
4 anos de idade. Ele tem os olhos doces e um sorriso encantador. Eu o amei
desde sempre. Ele foi desejado, planejado e
recebido com amor por mim e pelo pai dele.
Ser feminista e mãe de menino nunca foi um problema e sim
uma responsabilidade. Responsabilidade que eu aceitei como desafio junto com o
pai dele.
Responsabilidade, pois sei que futuramente ele deterá os
privilégios que o gênero pelo qual ele se identifica e foi designado lhe
trarão. E quero e espero que ele tenha consciência disso e viva essa
desconstrução.
Enquanto criança isso não influencia, mas não porque é assim
e sim porque jamais permiti. Arthur não é criado com sexismos, com coisas de
menino e coisas de meninas, não é criado longe do meu ativismo, pelo contrário,
Arthur se faz presente em quase tudo que faço e foi após o nascimento dele que
meu lado ativista aflorou, pois me vi no dever de cria-lo desconstruindo
preconceitos, sexismos e machismo.
Arthur sabe que deve respeitar o corpo de outra pessoa.
Certa vez , após uma marcha, ele me surpreendeu com a pergunta “ O côpo é da
mulher né mamãe?”
E ao falar que “não permiti”
é porque nossas crianças são bombardeadas diariamente com doses de
sexismos por todos os lados. Basta sair na rua e vemos na lojas a divisão: rosa
de menina, azul de menino. Coisas de menino, coisas de menina. Menino joga bola
e brinca de carrinho e meninas brincam de casinha e boneca e se o contrário
surge, surgem as criticas pesadas e as vezes comentários sem noção diretamente
à elas.
Arthur tem cabelos compridos, brinca com panelas cor-de-rosa
que ele escolheu, joga bola, brinca de casinha, conserta coisas com suas
ferramentas, brinca, se aventura, descobre..
E é isso que importa e é isso que uma criança precisa para
ter um ambiente saudável onde possa desenvolver seu intelecto e caráter.
Somando ambas as partes chegamos aqui:
Como acredito na misandria como tática de militância e
proteção psicológica, como Lausch aponta em seu texto, afirmo que sou
misandrica. E isso não significa que eu odeio ou odiarei meu filho. Vou
repetir: Não significa que eu odeio ou odiarei meu filho.
E também não significa que se um dia eu tiver uma filha
menina eu a amarei mais por isso.
Não confundam as coisas.
Amo meu filho com todas as forças que tenho, amo a
maternidade, que para mim foi uma escolha. E mesmo que tivesse sido uma
imposição não seria justo com uma criança que ela carregasse o peso disso.
Crianças são crianças e essas cargas não lhes pertencem.
Somos nós, os adultos, que somos responsáveis por criá-las
para que desconstruam e quebrem ciclos. E isso não é dever exclusivo da mãe. Já
comecemos por ai a descontruir a ideia de que a mãe e somente ela é responsável
pela criação dos filhos.
Sem apoio social , criar uma criança nos dias atuais é
comprar uma guerra desleal de lutar.
Mas isso é assunto para outro texto...
Espero que Arthur cresça e continue pelo caminho da
desconstrução que eu, seu pai, seu paidrasto e outras pessoas que participam de
sua vida, o auxiliam a seguir.
E que ele entenda a diferença cruel que existe entre misoginia que mata mulheres diariamente e a
misandria que nunca matou homem algum no mundo.
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¹Existe a
misandria a indivíduos específicos, mas não podemos confundir a violência do
opressor com a reação do oprimido. Mulheres foram violentadas e silenciadas por
séculos. Algumas odeiam homens que as agrediram diretamente e isso é legitimo e
deve ser respeitado.
²LAUSCH,Nathália.
Misandria: tática de militância e proteção psicológica.
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